Passando pelo deserto...


O que pensamos quando falamos em deserto? Um lugar seco, feio, sem cor, sem vida, sem água, sem uma sombra, desconfortável, quente. Pensamos naquelas tempestades de areia, onde minúsculos grãos de areia doem ao bater em nós. Enfim, quando falamos em deserto como um lugar físico, pensamos em um lugar não muito agradável. 

Mas e espiritualmente falando, o que pensamos quando falamos em deserto? Neste breve estudo, baseado no texto de John Bevere “Vitória no deserto” procuraremos ver o que é o deserto e o que ele pode nos trazer. E por quê isso? Porque todos nós já passamos, estamos passando ou vamos passar por desertos em nossas vidas, eles são inevitáves.

I – O que o deserto não é.

Ao falarmos sobre esse assunto uma série de concepções errôneas nos vêem a mente. Por isso, começaremos dizendo aquilo que o deserto não é.

a) O deserto não é um lugar de punição e de reprovação à Uma das primeiras coisas que se pensa: “Se está em um deserto espiritual, é porque sua vida não está no altar, tem pecado. Mas Jesus foi para o deserto após ser chamado por Deus de Filho amado (Mt. 3. 17 e 4.1). Logo, fica claro que Jesus não estava sendo punido e muito menos reprovado.

b) O deserto não é um lugar onde somos abandonados por Deus, tornando-nos alvos fáceis para a ação de satanás à É verdade que no deserto, por vezes, parece que estamos sozinhos, falaremos disso mais à frente, mas é um erro tal conclusão. O povo de Israel esteve no deserto por 40 anos, mas não abandonado, sozinho, veja Dt. 8. 2. Deus guiava o povo, estava presente no deserto.

c) O deserto não é um lugar de derrota à É inegável que quando estamos vivendo um momento de deserto espiritual, temos a impressão que as vitórias fogem de nós. Mas esta sensação se dá por culpa das circunstâncias e não por vontade de Deus. Para Deus é tempo de crescimento, não de derrota.

Em resumo, o deserto não significa rejeição, e sim preparo divino.

II – Então, o que é e para que serve o deserto?

Como já dissemos, no deserto parece que Deus está a milhares de Km de nós e, que suas promessas são inatingíveis. Na realidade Ele está ali, veja Hebreus 13. 5, bem junto de nós está o Senhor, pois prometeu que jamais nos abandonaria.

O deserto é um período em que você tem a impressão de que está andando na direção contrária a tudo que sonhou, distanciando-se cada vez mais da promessa divina. É uma fase em que você percebe que não cresce nem amadurece. De fato parece que você está retrocedendo. A presença de Deus parece diminuir. Sente que não é amado e acha que ninguém olha para você. O deserto é a ausência da tangível presença de Deus.

* No deserto aprendemos a receber de Deus o que precisamos, não o que desejamos à Vejamos Dt. 8. 3. A primeira frase deste versículo parece uma contradição com a segunda. Na primeira frase diz que eles tiveram fome, e na segunda que foram sustentados com o maná. O que acontece é que eles estavam buscando o que desejavam e não o que precisavam. O maná lhes alimentava, mas imagine comer pão de manhã, no almoço, no lanche, no jantar, durante 40 anos. Eles tinham fome de outros tipos de comida. Por isso, pediram carne, foram em busca dos seus desejos. Deus concedeu o que queriam, mas ouve um preço, veja Salmo 78. 27-29 e Salmo 106. 14-15. Não havia nem problema, nem pecado na atitude de pedir carne, o problema era que o desejo era motivado pela insatisfação do povo com Deus e pior, pela saudade das coisas antigas. Sempre que lembravam do Egito, sentiam água na boca, veja Ex. 16. 2-3; Nm 11. 4-6. Pense na dor causada no coração de Deus ao ver a ingratidão no do povo. O resultado disso: Definhamento na alma, eles nunca entraram na terra prometida.

Esta mesma atitude se dava com as roupas, elas não faltavam, não se acabavam, cresciam junto com o corpo, mas era sempre a mesma roupa por 40 anos.
           
No deserto vemos que Deus nunca deixará de nos dar o que necessitamos. O que desejamos, Ele também nos dará, mas na condição do Salmo 37. 4, se nossas motivações agradarem a Deus, Ele terá alegria em satisfazer os nossos desejos, mas estejamos cientes de uma coisa: Deus sempre priorizará em nossa vida aquilo que é necessidade, não aquilo que for desejo.

* No deserto aprendemos a buscar a face de Deus e não as mãos à  a face representa a natureza de Deus e seu caráter; corresponde ao relacionamento. As mãos representam provisão e poder. Se buscarmos apenas suas mãos, certamente não veremos sua face. Mas, se buscarmos sua face, por certo conheceremos sua mão. Uma coisa é buscar o Senhor por aquilo que Ele pode nos dar (interesse), outra bem diferente é busca-lo por aquilo que Ele é. Jesus entristeceu-se ao ver uma motivação errada no povo Jo 6. 24-26. Falaremos mais sobre Davi e Saul, mas a história desses dois reis de Israel tipifica bem a diferença de quem busca a face ou quem a busca a mão de Deus. Saul buscava um reino, Davi buscava a Deus!

* No deserto somos purificados e temos nosso caráter desenvolvido à Deus quer que tenhamos nossa forma de ser, de agir, nosso caráter moldados por Ele. Assim como Davi, Saul também foi ungido por Samuel, ou seja, ele também era um ungido. O problema era que Saul tinha a unção, mas não tinha o caráter. Não é a unção que faz de uma pessoa um homem de Deus, e sim o seu caráter. Unção não é sinal de aprovação divina. Jesus disse que pelos frutos reconheceríamos um homem de Deus, não pelos dons. O fruto do Espírito é o selo de aprovação de Deus sobre uma pessoa e não os dons do Espírito, estes são ferramentas, presentes.

Mas para termos o caráter de Deus em nós, precisamos ser purificados, e o deserto é o lugar próprio para isso. Leiamos Isaías 35. 6-8 e 40. 3. O caminho de Deus passa pelo meio do deserto e é no ermo que seu caminho é preparado.O deserto é a estrada ou rodovia que nos leva até uma vida de exaltação; por esse caminho, descobrimos como Deus vive e pensa. É no deserto que o caminho do Senhor é preparado, e o nome desse caminho é o caminho santo.

O deserto é o lugar onde somos provados, humilhados, purificados, onde o caráter de Deus é impresso em nós.

* O deserto nos ensina que tudo que for feito “na carne” não tem valor eterno à Vejamos o exemplo de Moisés: Quando completou 40 anos recebeu um chamado profundo de Deus – libertar o povo de Israel – Então ele tenta resolver com suas próprias mãos (At. 7. 23-25). Achava que conseguiria por ele mesmo, achava que era forte o suficiente, bom o suficiente, mas fracassou. Deus tinha ainda um longo processo de formação na vida de Moisés. Processo a ser desenvolvido exatamente no deserto. Após 40 anos de humilhação e crises no deserto, Deus o envia, mas veja a reação dele (Ex. 3. 10-11). O homem que 40 anos antes quer resolver tudo com suas próprias mãos, agora, após o deserto, se sente incapaz de ir a faraó. E é nessa incapacidade que Deus age!

* O deserto é um tempo de preparo para um ministério, para um projeto de Deus a ser realizado em nossas vidas à Exemplos de homens de Deus levados ao deserto para serem preparados para o futuro:

- Samuel profetizou o reinado de Davi, algum tempo depois Davi está se escondendo nas cavernas do deserto, preparando-se para o trono.

- Moisés entendeu que deveria libertar o povo da escravidão do Egito, mas teve que viver os 40 anos seguintes como fugitivo no deserto, pastoreando umas poucas ovelhas para seu sogro;

- João Batista foi chamado para ser um grande profeta e teve de desenvolver seu ministério no deserto;

- Jesus recebeu o anúncio de que era Filho de Deus às margens do Jordão, diante de uma multidão, e teve que, logo depois, ser levado ao deserto.

O deserto é um campo de treinamento para as batalhas futuras. Como os soldados ficam aquartelados preparando-se para as guerras, assim também Deus alistou seus soldados e enviou-os para o deserto, a fim de prepara-los para cumprir a vocação celestial.

* O deserto é também onde mais cedo ou mais tarde, de acordo com o tratamento de Deus, o Senhor se manifestará de forma mais poderosa à  

Veja onde estava Moisés quando Deus se revelou a Ele na sarça Ex 3. 1-4
Veja também onde estava João Batista. Lc 3. 2-3

É no deserto que o Senhor revela toda a sua Glória!

Resumindo tudo, veja o que diz o Rev. Hernandes Dias Lopes: “No deserto Deus nos prova. Ele nos manda para a solidão do deserto afim de nos desmamar do mundo. O deserto não é um acidente, mas uma agenda de Deus. É Deus quem nos manda para o deserto. O deserto é a Escola superior do Espírito Santo, onde Deus treina os seus líderes mais importantes. No deserto Deus treina seus obreiros para sua obra.”

Conclusão:

Não é fácil passar por um deserto, mas é necessário. Tudo na vida deveria ser feito tendo Cristo como modelo ou alvo final. Temos vivido um evangelho de facilidades, onde perguntamos: “O que Deus pode fazer por mim?” Quando na verdade deveríamos perguntar: “O que Deus quer de mim?” E o deserto nos ajudará a alcançar isso. Por isso, não tenha medo do deserto, tão pouco revolte-se por estar nele, pelo contrário, alegre-se, pois Deus está trabalhando muito em sua vida. Lembre-se, no meio do deserto Deus sempre providencia sombra e água fresca, ou seja, momentos de alívio em sua Presença, por isso relaxe e aprenda tudo o que Deus tem a lhe ensinar. Chore se for necessário, acolha-se no ombro de alguém, mas não resista. O melhor de Deus ainda está por vir. Creia nisso!

Deus nos abençoe,

Pr. Giovani Zainotte