500 Anos da Reforma


Estamos neste ano de 2017 celebrando 500 anos da Reforma Protestante. A propósito desta data celebrativa, reflito com você um pouco sobre as ênfases de Lutero, que a Igreja hodierna precisa conhecer e viver para que realmente possamos ser chamados protestantes...

Lutero define algumas ênfases em sua teologia que implicam diretamente no modo de ser das igrejas reformadas. Vejamos algumas dessas ênfases:

Somente a Escritura - As Escrituras estão acima de todas as demais autoridades da fé e das práticas cristãs. Lutero afirma que qualquer decisão conciliar, posição, pregação deve ser julgada por aquilo que ele chama de “norma infalível da Palavra de Deus”. Lutero chamava a Bíblia de “Livro do Espírito Santo”, “Veículo do Espírito Santo”.  A Igreja católica colocava a Bíblia como dependente do magistério da igreja, ou da tradição cristã, mas Lutero defendia que a Igreja e todas as outras coisas é que dependiam da Bíblia. Ele diz que mesmo sendo escrita por homens, não é nem vem de homens, mas de Deus. Deus fala através da Escritura. Estes princípios batem de frente a prática católica de aceitar decisões de papas como dogmas, como verdades de fé, inquestionáveis. Batem de frente também com uma série de práticas que temos visto em igrejas evangélicas como a atribuição de poderes mágicos a elementos como rosas, sal, água, lenços, etc, e a uma série de coisas que mesmo sem terem a menor sustentação bíblica tornam-se leis em muitas igrejas.

Somente Cristo - Lutero afirma que aquele que ler a Bíblia deve simplesmente prestar atenção para não errar, sendo conduzido de acordo com suas próprias inclinações, antes o leitor da Bíblia deve ser conduzido à fonte, ou seja, a Cruz de Cristo, este é o alvo de quem lê a Bíblia: encontrar Jesus. Ele é quem torna possível a salvação através de seu sacrifício. Cristo é o único mediador. A igreja não pode ocupar este papel, os santos também não são, nem líderes que respeitamos muito. Somente através Dele somos salvos. Isso bate de frente com ensinamentos católicos de que a igreja mediava a salvação das pessoas. Estas eram salvas, perdoadas, através da mediação da igreja, como veremos mais adiante. Também vai de encontro à crença de que pessoas que morreram e que são consideradas santas podem ser mediadoras entre nós e Deus. Em arraiais protestantes, a idéia de Lutero vai contra a postura de muitos, ao pensarem que alguns estão mais próximos de Deus que outros, e por isso sua oração é mais poderosa e eficaz. Somente Cristo é a afirmação de que Jesus é o centro da Escritura, o centro da vida da Igreja, a fonte da salvação, e o único mediador.

Somente a Graça - Ao falar de Graça, Lutero está falando sobre salvação. Ciente que por culpa do pecado, a vontade do homem estava inclinada ao mal, Lutero encara a Graça como a possibilidade de alcançarmos a “gloriosa liberdade dos Filhos de Deus”. Pela Graça o homem volta-se para Deus, reconhece seu estado de miséria e é salvo, mediante o sacrifício de Cristo. Assim, a salvação não é por méritos humanos, por obras, não pode ser comprada por dinheiro, mas é pela Graça. A igreja católica ensinava duas coisas contrárias a este ensino de Lutero. Uma era a salvação por obras, dando ao homem méritos no processo de salvação. Outra era a possibilidade de adquirir a salvação por pagamento, eram as chamadas indulgências. Estas poderiam ser compradas por alguém para ela mesmo ou para pessoas que morreram. Estes ensinos de Lutero confrontam-se também com muitas igrejas evangélicas que estipulam uma série de regras para as pessoas serem salvas, legalismos que anulam a Graça de Deus. O assassino não é salvo por deixar de matar, ele deixa de matar porque é salvo e essa salvação se dá pela Graça.

Somente a fé - Primeiramente Lutero baseia-se na afirmação bíblica de que a fé é dom de Deus, Ele é quem nos dá condição de crer. Com base nisso, Lutero afirma que a justificação é dada pela vitória completa de cristo na cruz e diz que “se você crê, então você a terá”. Não é a fé que nos torna justo, que opera em nós a justificação, mas ela nos faz receber a justificação. Lutero definia fé como um agarrar-se ou segurar-se a Cristo. Pela fé, somos declarados justos. Assim como a salvação, a justificação não se dá pelos méritos humanos. Seremos declarados justos diante de Deus pela nossa fé na vitória de Cristo na cruz do calvário.

Estes pontos não esgotam a teologia de Lutero. Muito pelo contrário. Poderíamos aqui falar também do sacerdócio universal de todos os crentes. Que colocou todos os cristãos no mesmo pé de igualdade, confrontando um sistema de hierarquia que dava poder somente a um pequeno grupo, e que infelizmente está se reproduzindo nos dias de hoje. Ou ainda poderíamos destacar a separação entre Estado e Igreja, que possibilitou a igreja a voltar a ser voz profética, denunciando todo tipo de injustiça, como faziam os profetas do Antigo Testamento. Este é outro ponto que está sendo esquecido pelos protestantes atuais que fazem de tudo para chegarem ao poder em nome de Deus e depois envergonham a fé, envolvidos em toda sorte de falcatruas.

Mesmo assim, esta pequena reflexão já nos leva a confrontarmo-nos com nossa realidade e vermos se estamos hoje, vivendo aquilo que Lutero e os demais reformadores pregaram. Por estes princípios, muitos morreram, foram perseguidos. O Espírito Santo que move a igreja levantou Lutero, Calvino e tantos outros, para chamar os cristãos a voltarem aos ensinamentos de Jesus. Que eu e você hoje sejamos também levantados pelo Espírito a fazermos diferença e sermos atalaias que convidarão a igreja a andar no rumo certo, no rumo de Deus.

Bibliografia:

GEORGE, Timothy, Teologia dos Reformadores – São Paulo; Vida Nova, 1993.
OLSON, Roger E, História da Teologia Cristã: 2000 anos de tradição e reforma, São Paulo; Editora Vida, 2001.
GONZÁLEZ, Justo L. E até os confins da Terra: uma história ilustrada do Cristianismo, vol. 6 –  São Paulo; Vida Nova, 1995.

Propósitos Eternos x conveniências humanas Jó. 42.2



Benção da misericórdia ou Benção do propósito?

Temos uma medida muito errada quando queremos avaliar se nossas vidas estão em um rumo acertado ou não. Olhamos, na maioria das vezes, sobre como estão as coisas à nossa volta. Estamos com saúde? Estamos empregados? Estamos dormindo bem? Se essas e outros pontos estiverem bem, entendemos que estamos na direção certa, entendemos que Deus nos está abençoando. E, se Deus está nos abençoando, então, estamos no rumo certo. Certo?

Pois é... essa visão, vem da concepção de meritocracia que temos com relação as coisas de Deus. Ou seja, acreditamos que a benção de Deus vem como fruto de estamos fazendo tudo certinho. Se estamos abençoados, então estamos no rumo certo. Quando coisas erradas, ruins começam a acontecer então nos perguntamos onde estamos errando.

Foi essa concepção que fez com que os amigos de Jó desejassem que ele confessasse seus pecados, pois essa mentalidade dizia a eles e diz a nós também, que alguém vivendo as tragédias que Jó estava vivendo, estava sendo alvo da ira de Deus por conta de seus pecados.

Só que não é isso que a Bíblia nos ensina! Ela nos mostra que quando vivemos uma vida dissoluta, irresponsável, pecaminosa, estamos lançando sementes que trarão uma colheita terrível. Ela nos fala que se escolhemos a vida de pecado, receberemos salário disso que é a morte... mas tudo isso, como consequência direta de nossas escolhas, de nossas atitudes, das sementes que lançamos.

A benção de Deus é outra coisa. Sim! A benção de Deus sobre nós, nunca foi merecimento nosso, sempre foi Graça. Seja sincero meu irmão, você e eu não merecemos nada. Uma auto avaliação rápida revela-nos o quanto somos complicados, cheios de sentimentos ruins, atitudes condenáveis, hipocrisias, pesos e medidas diferentes em cada situação e por aí vai... Não concorda? Tem coragem de orar pedindo que Deus derrame bênçãos sobre sua vida segundo seu merecimento? Eu não tenho...

Tudo que recebemos é Graça. A começar pela maior de todas as conquistas que tivemos: a salvação! Quem mereceu ou merece que O Rei tenha se feito homem, habitado entre nós, tenha sido rejeitado e por fim tenha morrido no madeiro?

Todos os dias Deus renova bênçãos sobre minha vida e isso é por puro amor, graça e misericórdia. Eu me levantei hoje, o fôlego de vida foi renovado sobre minha vida... Quanta Graça há nisso! Muitas bênçãos estão sobre minha vida, e elas não são frutos da minha bondade ou perfeição, mas da bondade do Senhor.

Isso é lindo, mas traz um perigo: acomodar-me com uma vida fora do propósito do Senhor. Parece que só paro para pensar se estou alinhado ao querer do Pai, quando as coisas começam a desabar ao meu redor. Por isso as vezes, creio eu, Deus permite algumas “tempestades” nos acometerem, pois parece que sem elas somos insensíveis e desligados.

A lógica é essa: estou bem, tudo dando certo, mudar o quê? Avaliar o quê? Enquanto isso, silenciosamente, nosso coração vai se afastando de Deus. Os planos dele vão ficando de lado, afinal de contas, temos muito o que fazer.

Sabe o que é terrível? Que por estarmos sendo abençoados, achamos que podemos renunciar aos propósitos eternos de Deus e viver as conveniências humanas...

* Um jovem entende que seria bom casar com alguém que vai viver a fé com ele, que vai partilhar a vida a 3, tendo Jesus nessa história, que seria lindo orar junto, buscar junto, ir pra igreja junto (propósito de Deus). Mas ele conheceu uma moça linda, maravilhosa, que gostou dele, estão se entendendo, se dando bem, ela não está nem aí pra essas “coisas de Jesus”, mas fazer o que né... (conveniências humanas)

* Uma pessoa entende que precisa trabalhar, estudar, investir em seu futuro, mas sempre mantendo o foco em Jesus, tendo tempo para Ele, para serví-lo (propósito de Deus). Mas o ritmo de vida que ela está levando, não, a carga horária que ela abraçou, não lhe permite mais ir a cultos, congregar. Ela já não ora, já não tem tempo de estudar a Palavra, mas o emprego é bom, o salário é ótimo, então, fazer o quê (conveniências humanas).

* Uma pessoa entende que todo cristão verdadeiro, precisa ter relacionamento real com Jesus e que isso se desenvolve através de oração, de leitura da Palavra, de comunhão com os irmãos (propósito de Deus). Mas ela não tem tempo, não entende bem o que lê e também não quer ir a célula, a Escola dominical, não tem tempo de oração, não tem intimidade, não leva ninguém aos pés de Jesus, mas vem aos cultos, participa de um ministério, então está bom né... (conveniências humanas)

E todas essas pessoas vivem suas vidas baseadas em conveniências humanas, achando que está tudo certo pois Deus as tem abençoado! Queridos, meu Deus tem prazer em nos abençoar, muitas vezes essa benção vem da misericórdia, bom será quando ela vier do propósito.

Portas se abrem muitas vezes por misericórdia e permissão de Deus, bom será quando elas se abrirem por causa do propósito!

Estou chamando de benção da misericórdia, as portas que Deus abre, os benefícios que Deus me faz por pura misericórdia, por pura Graça. E estou denominando benção do propósito as portas, conquistas e vitórias que chegam por eu estar alinhado ao propósito de Deus. Estas também são fruto da Graça evidentemente, mas soam mais como provisão, ferramentas para que o projeto de Deus se concretize em minha vida.

Ismael X Isaque (Gn. 16)

Olho para a Palavra e vejo a história de Abraão. Deus lhe deu uma promessa (ser pai de multidões). O que Deus queria é que Abraão obedecesse, ficasse na posição e aguardasse Deus fazer (propósito de Deus). Mas ele e sua esposa Sara, acharam isso difícil demais, preferiram ajudar a Deus tomando a escrava para que ela engravidasse (conveniência humana)

Deus não impede, permite. Nasce Ismael. Ismael é fruto da benção da misericórdia. Ele não é o propósito, ele não era o que Deus havia prometido, mas Deus permitiu e por misericórdia ele nasceu e foi abençoado por Deus.

Mas Deus vai cumprir o seu propósito, então Sara engravida, gera Isaque. Isaque é fruto da benção do propósito. Deus não desistiu do propósito por conta da decisão de Abraão em engravidar a serva Agar. Quando eu saio dos trilhos, eles não deixam de existir, eles continuam lá esperando que volte para chegar ao meu destino. O caminho que peguei, nunca se converterá em trilhos apropriados para minha viagem...

Saul X Davi (I Sm. 8. 1-22)

Outro exemplo disso é Saul. O Senhor ia à frente do povo de Israel em todas as suas batalhas. Mas o povo olhou os demais reinos e viu que eles tinham um homem a frente, um Rei segurando um estandarte. Pediram um também (conveniências humanas). O Senhor concedeu Saul. Deus o abençoou, deu autoridade a ele, mas por Graça, por misericórdia, pois não era quem Deus desejara, tendo inclusive se sentido rejeitado pelo povo. Saul é fruto da benção da misericórdia.

Agora, Deus vai levantar alguém segundo seu coração. Ele ordena seu profeta que o procure e o unja. Esse Homem é Davi. Davi é fruto da benção do propósito.

Quais lições aprendemos nesses dois exemplos:

1.    A benção da misericórdia tem como característica nossa falta de sintonia com a vontade de Deus.

Tanto no caso de Abraão engravidando a serva, quanto no caso de Israel levantando Saul, o povo não estava sintonizado com a vontade de Deus, estava se movendo por conveniências humanas. Avalie sua vida, suas escolhas, suas decisões hoje e diga: Elas são fruto do propósito de Deus que você percebeu e está obedecendo ou de pura conveniência humana?

2.    A benção da misericórdia tem como característica a nossa precipitação.

Se Sarah e Abraão esperam um pouco mais, ela apareceria grávida e não passaria por todos os percalços que passou. Se o povo de Israel espera um pouquinho mais, não teria tido um Rei com o coração tão cheio de si como foi Saul. É sempre assim, quando não esperamos o tempo certo, tomamos decisões precipitadas, somos abençoados, mas temos que administrar algumas consequências.

3.    A benção da misericórdia tem como característica a valorização de aspectos externos.

Abraão olhou para sua idade. Sarah olhou para sua idade e para sua condição, sendo ela uma mulher estéril. Saul era reconhecido como um homem de guerra, forte, ninguém atentou para seu soberbo coração. Davi nem por seu pai foi citado, afinal, não tinha porte de Rei. Muita coisa em nossa vida é escolhida por deixarmos de lado a promessa, o poder e a direção de Deus e nos prendermos ao que nossos olhos veem, ao que é mais conveniente.

4.    A benção da misericórdia é uma iniciativa do homem. A benção do propósito é uma iniciativa de Deus.

Mesmo sendo de idade avançada, Abraão engravidar Hagar não foi nenhum absurdo fisicamente falando. Temos relatos de homens de mais idade que engravidam mulheres hoje em dia. Mas Abraão engravidar uma mulher de idade avançada, com histórico de esterilidade... só com a intervenção do Senhor.

Escolherem um homem forte, com histórico de lutas como Saul, era fácil. Achar Davi, atrás das malhadas, não sendo lembrado nem pelo Pai, só Deus!

Não tome iniciativas quanto ao seu destino, espere Deus falar, Deus mostrar, Deus confirmar!

5.    A conveniência humana em algum momento vai entrar em choque com o propósito de Deus.

Chegou uma hora em que Sarah não suportou mais Hagar e Ismael e os mandou embora. A luta que vemos hoje entre judeus e muçulmanos tem origem nessa briga. Ismael (conveniência humana) em algum momento baterá de frente com Isaque (Propósito Eterno).

Saul não aguentou a comparação com Davi. Depois de ouvir o canto das ruas, Saul (conveniência humana) tentou de todas as formas matar Davi (propósito Eterno).

Vai chegar uma hora que aquele que vive movido por conveniências humanas terá que optar entre elas ou o propósito de Deus. Esses dois aspectos não andam juntos, não apontam na mesma direção, não levam ao mesmo destino.

Conclusão:

Deus tem me abençoado pastor! Que bom... Mas isso não é problema seu, é de Deus! Ele tem feito por te amar e por ser misericordioso e gracioso!

O povo de Israel no deserto, foi o que mais viu milagres em todos os tempos. Roupa e sapatos crescendo com o corpo, nuvem durante do dia, fogo durante a noite, pão e carne caindo do céu, mar abrindo e por aí vai... mas esse povo morreu no deserto e não chegou a terra prometida por optar viver suas conveniências.

Que bom que eu e você temos visto sinais e cuidado de Deus. Mas ainda assim, precisamos avaliar, perguntar pelas veredas antigas, pelo propósito do Senhor e nos enquadrar, nos alinhar e viver o que Deus tem para nossas vidas!

Que Ele nos ajude a viver seus propósitos eternos!

Pr. Giovani Zainotte