O capítulo 11 de João nos é bem conhecido. Lázaro
fica enfermo, Marta e Maria mandam uma mensagem a Jesus na expectativa de que
Ele venha e cure seu irmão. Mas não deu tempo... Lázaro morreu e quando Jesus
chegou, ele já estava enterrado há quatro dias.
Pr. Giovani Zainotte
Jesus
tinha um relacionamento bem próximo com esta família, algo notório (Jo. 11.36).
Podemos então perceber que Ele conhecia bem aos três: Lázaro, seu amigo que
estava morto, e as irmãs Marta e Maria. Já havia se hospedado na casa deles.
(Lc. 10.38-42)
Jesus
chega a Betânia. A partir daqui alguns pontos me chamam a atenção e eu partilho
com você:
1. Marta sai ao encontro de Jesus
enquanto Maria permanece sentada (verso. 20)
Fazendo
um paralelo com a história que encontramos em Lc. 10, quando Marta se ocupa em
servir o jantar enquanto Maria não quer sair dos pés de Jesus, percebemos não
só facetas diferentes da personalidade de cada uma (é fato que somos
diferentes, reagimos de forma diferente a situações iguais), mas, creio que
podemos visualizar o nível de relacionamento e fé de cada uma delas em relação
a Jesus.
Penso que Marta sai, porque não controla sua ansiedade, suas emoções. Sai, porque não sabe descansar em Deus. Sai porque acha que pode resolver seus problemas, suas crises com suas mãos, com suas ações, com seu esforço!
Penso que Marta sai, porque não controla sua ansiedade, suas emoções. Sai, porque não sabe descansar em Deus. Sai porque acha que pode resolver seus problemas, suas crises com suas mãos, com suas ações, com seu esforço!
Marta
fica sentada, porque sabe que Jesus vai chegar até ela, sabe que não estará só,
no momento certo Ele chegará! Marta fica sentada porque sabe que se Jesus não
trouxer o milagre, trará o consolo, a força e a direção. Marta fica sentada
porque tem a convicção de que Jesus não chega atrasado, não perde o controle de
nenhuma situação.
2. Jesus ouve o mesmo relato de Marta e de Maria, mas tem reações muito diferentes
2. Jesus ouve o mesmo relato de Marta e de Maria, mas tem reações muito diferentes
No
verso 21 e no verso 32, Marta e Maria dizem a mesma coisa a Jesus: “Senhor,
se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido”. A frase foi a mesma, mas o
resultado, completamente diferente...
Com
Marta, Jesus não expressa nenhum sentimento, dá uma resposta importante mas
objetiva: “Teu irmão há de ressurgir”. A sensação que tenho é que Jesus
estava andando e no caminho falando, parece que tem outra coisa na cabeça...
(já conversou com alguém que nitidamente está com a cabeça em outra coisa). E
digo isso, pois imediatamente, Jesus pergunta por Maria... (verso 28)
Quando
Maria chega, diz a mesma coisa de Marta, mas o resultado... Diz-nos o texto que
Jesus “agitou-se no espírito e comoveu-se”. Hernandes Dias Lopes diz que
o verbo usado literalmente quer dizer “bufou por indignação” usado quando
alguém queria demonstrar um total desprazer. Diz também que Jesus chorou. E por
último relata que ele foi para a ação... “onde o sepultastes?”.
Por
que a diferença, se elas disseram a mesma coisa? Para mim a explicação é
simples e clara. Na boca de Marta, o relato parecia reclamação, queixa,
murmuração, na boca de Maria pareceu adoração...
E
por que? Porque Marta sai esbaforida, descontrolada, na saída da cidade e
despeja suas reclamações. Maria espera Jesus, sai, e antes de falar qualquer
coisa, “lançou-se-lhe aos pés”.
Existem coisas que não são certas ou erradas em
si mesmas, mas o local, o momento, a forma como são feitas é que definem se foi
acertado ou não aquilo que fizemos. Quantos exemplos poderíamos dar desse fato.
Algo que precisava ser dito, mas não no momento que dissemos, ou no tom que
falamos. Alguma atitude que precisava ser tomada, mas não na hora em que a
tomamos, etc.
Aproximar-se de Jesus é certo, bom
necessário... mas existe uma forma adequada pra que isso seja feito. Hebreus
11.6 por exemplo nos diz: “porque é necessário
que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador
dos que o buscam.”
O crer que ele existe não fala simplesmente na certeza mental de que Deus é
real, mas também ao fato que saber quem Ele é, como Ele pensa, o que Ele gosta,
enfim, conhece-lo, pois são esses que poderão dar o passo seguinte: busca-lo e
receber recompensa...
Outro
exemplo de coisas que a princípio ninguém poderia dizer, até verificar como
estava sendo feita... “O Senhor
diz: "Esse povo se aproxima de mim com a boca e me honra com os lábios,
mas o seu coração está longe de mim. A adoração que me prestam só é feita de
regras ensinadas por homens.” Is. 29.13. Primeiro, o povo estava se
aproximando do Senhor, o que seria maravilhoso, se fosse algo que expressasse o
desejo do coração deles, mas diz-nos o texto que era “com a boca”. Segundo
vemos que o “honravam”. Honrar alguém é certo. O Senhor que ser honrado
por nós. Mas quando isso não parte do nosso coração torna-se algo errado. No
texto honravam ao Senhor com lábios, mas o coração estava distante, assim seu
ato de honrar se tornava inútil, vil, errado. Adoravam também, em outra versão,
temiam, e isso é fantástico, mas esse temor ou essa adoração não passavam dogmas,
litanias e liturgias decoradas, ensaiadas, sem amor, sem convicção.
Os
fariseus viviam a ostentar as leis, e o problema nunca foram as leis. A questão
é que eles não conseguiam visualizar o espírito por trás das leis. Por isso a
lei para eles matavam e continuam a matar tanto ainda hoje, pois não davam
espaço ao Espírito para que Ele trouxesse e traga vida. Regras, leis tem seu
lugar e nos ajudam na caminhada, mas legalismo mata!
Maria
aparece três vezes nos Evangelhos. Nas três vezes, ela está aos pés do Senhor.
Na primeira vez, estava aos pés do Senhor para aprender (Lc. 10.39). Aqui, está
aos pés do Senhor para chorar. Finalmente, ela está aos pés do Senhor para
agradecer (Lc. 12.3). Por isso, Jesus a chama, por isso sua fala O comove, por
isso ela é elogiada e não exortada como desejava Marta ao hospedarem Jesus. Por
isso sua atitude ao derramar um perfume tão caro não é censurada por Jesus!
3. Marta dá um show de religião
3. Marta dá um show de religião
Desde
o início dessa história, Marta demonstra ser uma profunda conhecedora da
religião. Ela fala na ressurreição do último dia (verso. 24); fala do Cristo
esperado pelos judeus (verso. 27); ela fala dos quatro dias de Lázaro morto
(além do fator claro de que um morto de 4 dias começa a exalar mau cheiro,
havia uma opinião geral no judaísmo que a alma deixava o corpo três dias após a
morte).
Existem
pessoas que amam uma igreja, amam rituais, ainda que sejam repetitivos e
mecânicos, amam regras, ainda que nem as consigam seguir com exatidão. Existem
pessoas que são especialistas na rica história do cristianismo, da sua
denominação e de tantas outras coisas, mas não conhecem o Deus que moveu tudo
isso. Existem aqueles que conhecem a Bíblia com detalhes, mas são secos,
infrutíferos... Como expressou Jó, muitos de nós conhecemos a Deus de ouvir
falar (e isso não é difícil hoje, ouve-se de Deus na TV, no rádio, na
internet...), mas nunca O vimos... Como é fácil perceber “metodistas
tradicionais” falando com riqueza de detalhes da experiência do coração
aquecido de John Wesley sem nunca ter experimentado o mesmo em seu próprio
coração!
Mas
a religião de Marta morreu junto com Lázaro. Não havia mais o que fazer.
Religião é assim, cheia de limites... Nos ajudam até certo ponto.
Não
creio ser coincidência que não tenha uma fala de Maria concordando com Marta,
questionando a Jesus... Se Marta dava show de religião, Maria dava show de
comunhão! Talvez se em Lc 10.38ss Marta não tivesse passado tanto tempo agitada
de um lado para outro, teria aprendido o que Maria aprendeu ao permanecer
assentada aos pés do mestre! Ela não questiona, porque sabe quem está dando a
ordem. A esse não se questiona, não se duvida. Ele não é limitado pela ordem
natural das coisas, Ele faz o que quer, na hora que e com quem quiser! Ele é
Jesus...
Conclusão:
Reconheço que é bem mais fácil ser como Marta. Decorar regras, agir movido por seus impulsos e preencher nosso tempo com ativismos inúteis nos ajudam a mascarar as crises da nossa alma, a viver na ilusão de que está tudo bem, a aplacar nossa consciência com o cumprimento de meia dúzia dogmas religiosos... Mas uma hora Lázaro morre! E a ilusão dessa vida superficial cai por terra.
Reconheço que é bem mais fácil ser como Marta. Decorar regras, agir movido por seus impulsos e preencher nosso tempo com ativismos inúteis nos ajudam a mascarar as crises da nossa alma, a viver na ilusão de que está tudo bem, a aplacar nossa consciência com o cumprimento de meia dúzia dogmas religiosos... Mas uma hora Lázaro morre! E a ilusão dessa vida superficial cai por terra.
Que
o Senhor nos dê um coração semelhante ao de Maria. Que escolhe a melhor parte,
que sabe que uma coisa só é necessária, que adora, que sabe como se aproximar,
que sabe como e quando chorar, que ama a Jesus!
Deus
nos abençoe,Pr. Giovani Zainotte