Posso ou não posso???



Nos últimos dias fui muito questionado quanto ao fazer ou não uma tatuagem. Jovens e pais de jovens me procuraram buscando saber se a Bíblia condena tal prática ou não.

Ouvi argumentações Bíblicas tanto dos que defendem o uso das tatuagens quanto aos que condenam. Escrevo este breve artigo tecendo algumas considerações sobre as diversas argumentações que ouvi.
Primeiro os que defendem as tatuagens.

Ouvi muitos citando o texto de Apocalipse 19.16: “E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores.” Ou ainda IsaÍas 49.16: “Eis que nas palmas das minhas mãos eu te gravei; os teus muros estão continuamente diante de mim”.

Não vejo possibilidade de dizer que tais passagens façam apologia a tatuagens. O texto não fala sobre isso, usá-lo desta forma é deturpar as Sagradas Escrituras. As duas passagens citadas são alegóricas e não devem ser interpretadas em sentido literal.

Até porque, se assim o fizermos teremos que fazer menção da “tatuagem” descrita em apocalipse 13. 16-17: “E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas, Para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome.”

Aos que não aceitam tatuagens

Outros citaram o texto de Levítico 19. 28: “Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne; nem fareis marca alguma sobre vós. Eu sou o SENHOR.

Assim como os defensores do uso de tatuagens usam textos, ao meu ver, fora do contexto, os opositores também. Para entendermos citarei o mesmo texto na tradução NTLH (Linguagem de hoje): “Quando chorarem a morte de alguém, não se cortem, nem façam marcas no corpo. Eu sou o Senhor.”

As nações pagãs utilizavam a escarnificação*, o dilacerar a carne, como meios ritualísticos relacionados aos mortos. Segundo o pastor presbiteriano Manuel do Carmo Filho: “Fazendo uma análise exegética mais profunda, acho desleal, traduzir o texto de Levítico dezenove como sendo tatuagem (a exemplo da NVI). As palavras do texto do verso 28 são: não façam (nathan) sareteth, incisão, corte, talho, na vossa carne pelos mortos, nem fareis (nathan) qa’aqa kethobeth, incisão, corte, marca feita a ferro em brasa sobre vós. O texto aqui se refere claramente a escarnificação, rasgar ou lacerar a carne, com o intuito de agradar aos deuses, ritual feito por inúmeras religiões pagãs, à semelhança dos profetas de Baal “Então passaram a gritar ainda mais alto e a ferir-se com espadas e lanças, de acordo com o costume deles até sangrarem” (IRs18:28) e de alguns rituais afro brasileiros.

Dessa forma o texto refere-se a um contexto muito específico, o não marcar-se aqui apontava para a não participação em rituais pagãos. Sendo assim não serve como base para condenar as tatuagens. Cito ainda Sandro Baggio que diz: “os que não aceitam a tatuagem e se arrimam no texto de Levítico 19:28, também teriam que ser automaticamente proibidos de comer carne de coelho, porco, camarão, lagosta, ostras, e moluscos, misturar raças de gado, misturar linho com lã, raspar ou aparar a barba (Lv 11:6-7; 11:10-12; 19:19e27). Então, se você alguma vez comeu um sanduíche de porco, comeu lagosta, aparou a barba, usou uma roupa de linho forrada com lã – ou fez uma tatuagem, você é culpado sobre a lei!”


E então pode ou não???

As informações acima me levam a uma conclusão óbvia: A Bíblia não me dá um texto específico sobre o assunto, nem para condenar nem para corroborar tal prática. Assim passo a fazer algumas considerações:

1.       Na Igreja Metodista nos pautamos pela Palavra de Deus e pelos documentos da Igreja. Particularmente não vejo base bíblica consistente para proibir tatuagens. Outros assuntos polêmicos podem ser definidos pelos documentos da Igreja, por exemplo, o beber álcool gera no meio cristão alguma polêmica, alguns grupos defendem que a Bíblia só é contrária ao embriagar-se. Porém, nós metodistas temos em nossos documentos a declaração de que todo metodista é abstêmio, ou seja, não bebe. Assim, nem precisamos entrar na polêmica, nossos documentos já definem o assunto proibindo o beber álcool. Porém, em relação a tatuagem nossos documentos também nada falam.

2.       Creio que estamos tratando de questão cultural. Então acho interessante definir cultura: “O conjunto de características humanas que não são inatas, e que se criam e se preservam ou aprimoram através da comunicação e cooperação entre indivíduos em sociedade. [Nas ciências humanas, opõe-se por vezes à idéia de natureza, ou de constituição biológica, e está associada a uma capacidade de simbolização considerada própria da vida coletiva e que é a base das interações sociais.]. A parte ou o aspecto da vida coletiva, relacionados à produção e transmissão de conhecimentos, à criação intelectual e artística, etc”. Assim sendo, muitas coisas que para uma cultura é bom, aceitável, para outras é terrível e condenável. Um exemplo simples – alguns países têm a saia como um traje masculino, dentro de nossa cultura, homem não usa tal vestimenta. Cultura muda de acordo com as gerações, locais, épocas. A cultura dos templos bíblicos é diferente da cultura atual. Assim, assuntos relacionados à cultura podem ter entendimentos diferentes. Aquilo que a Bíblia define como pecado é diferente: seja ontem ou hoje, aqui ou em qualquer outro lugar aquilo que Bíblia chama de pecado é pecado, não muda, como matar por exemplo.

3.      As afirmação acima não apontam para o fato de eu concordar com as tatuagens. Particularmente sou contrário, não autorizaria meu filho a fazer e não recomendo a ninguém. E por quê?

3.1   – Porque ela é irreversível, assim não me dá a chance de arrepender-me, de não gostar, de querer mudar.
3.2   – Porque como uma questão cultural, aquilo que hoje é aceitável e interessante, pode amanhã ser novamente condenado e recriminado. Militares por exemplo até um tempo atrás não aceitavam ninguém com tatuagens;
3.3  Pelos riscos ã saúde. Pesquisas mostram que tatuagens aumentam muito a possibilidade de contrair doenças como HIV,  hepatite, infecções bacterianas e virais.   

Casos em que tatuagens devem ser radicalmente proibidas:

Creio que em pelo menos três momentos as tatuagens devem ser deixadas de lado:

1.       Se viola a autoridade dos pais, pastor, lideranças (Leia atentamente Rm 13.1-2) – Se os pais, líderes, autoridades são contrários, a tatuagem não deve ser feita. Devemos lembrar que a rebeldia é comparada a feitiçaria, então o pecado será grave!

2.       Se a natureza da prática dá lugar à carne, envolve magia, ocultis­mo, idolatria, exploração, malignidade (Leia atentamente Gl 5.13;Cl 3.17;IPd 1.14-25). Responda sinceramente: o que te motiva à tatuar-se? Alguns a querem fazer por rebeldia aos pais, outros por questões de sensualidade etc.

3.      Se traz dúvidas ao coração ou à consciência (Rm 14.22; 1 Jo 3.20) – Se está com o coração “dividido”, cheio de dúvidas, melhor não fazer!

Concluindo

Alguém diz que se conselho fosse bom não se dava, se vendia, mas... quer um conselho? Não faça! Alguns estão escrevendo frases e palavras em hebraico, símbolos cristãos, elementos que apontam para sua fé em Cristo e que até “servem”, dizem, para evangelizar e louvar a Deus. Mas existem outras formas muito melhores de evangelizar, de demonstrar nossa fé e anunciar Jesus. A melhor forma de declararmos nosso amor ao Senhor é ganhando vidas, essa sim é uma declaração forte de que estamos aliançados com Deus!

Mais ainda assim, não desprezemos o conselho do sábio apóstolo Paulo em Romanos 14. 2-6. Assim creio que caminharemos juntos no ideal de sermos e fazermos discípulos!

Deus te abençoe

Rev. Giovani Zainotte

  
* Escarnificação é uma técnica de modificação do corpo que consiste em produzir cicatrizes no corpo através de instrumentos cortantes. Diversas culturas utilizam está técnica. Na África em algumas culturas as mulheres utilizam a escarificação como forma de beleza.)